Há 10 anos, eu descobria (e vivia) o poder viral da internet

Uma despretensiosa foto postada nas redes sociais mobilizou diversas pessoas em torno de uma causa

07/11/2022 | Categorias: Aprendizado Auto-promoção Marketing Digital

tags:

De repente, as notificações de compartilhamento não paravam. Não demorou muito, jornalistas começaram a me mandar mensagem, pedindo meu telefone para entrevista. Horas depois, a foto que fiz – juntamente com uma breve fala, estavam nos veículos locais. E não demorou muito, a notícia estava na capa do Globo.com. Em 5 de novembro de 2012, o Facebook ainda era uma novidade pra mim. E, toda aquela repercussão, mais ainda. 

Semanas antes, um ciclista tinha sido atropelado em uma das principais avenidas de Florianópolis e faleceu. Seus amigos então pintaram uma bicicleta toda de branco e a penduraram próximo ao local do incidente. Acompanhando o noticiário, descobri que aquilo era uma homenagem e tinha um nome: Ghost Bike (bike fantasma). 

Acontece que , misteriosamente, dias depois, a bicicleta desapareceu do local da homenagem. Para a comunidade de ciclistas da cidade, aquilo era como profanar um túmulo. E, engajados, o fato também virou notícia, dando continuidade à história da morte do esportista. 

Creio que foi por isso tudo que me chamou atenção quando eu estava indo de carro para o trabalho e vi uma moça com uma bicicleta toda branca. Não era possível, só podia ser a bicicleta fantasma que desapareceu! Naquela hora, minha “veia” jornalística pulsou mais forte. Eu tinha que denunciar aquilo!!! Mas, uma coisa que aprendi bem na faculdade de jornalismo é que não é papel da imprensa julgar – e todo mundo deve ser tratado apenas como suspeito, ficando para a justiça / polícia atribuir culpa. Por isso, resolvi fotografar sim, mas sem mostrar o rosto da ciclista. 

Mas, o que ia fazer com a foto? Em 2012, a participação da população na pauta jornalística ainda não era tão comum. Então, resolvi postar em meu feed do Facebook e também mandar para uma página que falava para a cidade. Ações despretensiosas, quase que por desencargo de consciência.  Isso porque eu ainda não conhecia o poder que as redes sociais tinham criado, capazes inclusive de pautar a própria imprensa. 

“Avistei hoje na Lagoa uma pessoa que aparentava estar usando a bike fantasma furtada ontem (4) no Santa Mônica. Para quem não sabe, a bike é uma memória ao ciclista atropelado este ano na Avenida Madre Benvenuta”

Meus amigos compartilharam, a página para a qual eu tinha enviado o link da minha publicação com a foto também. E diversos de seus seguidores fizeram o mesmo. Por sua vez, os amigos dos seguidores. Tantos compartilhamentos que chegou a alguns colegas jornalistas, que entravam em contato querendo saber mais informações e pedido para publicar a foto. 

A repercussão foi tanta na cidade que a própria pessoa que estava com a bicicleta resolveu devolvê-la à polícia. Ao delegado, alegou que não sabia que a bicicleta tinha dono e por isso a pegou de onde estava pendurada. Com o memorial perto de ser reestabelecido, recebi uma mensagem da filha do ciclista morto, agradecendo. 

“Olá, Diogo! Sou Melissa, filha de Jose Lentz Neto, da bicicleta fantasma. Quero te agradecer a coragem e parabenizar pelo profissionalismo, pelo compromisso com a verdade dos fatos. Acho que se não fosse a tua foto e a tua atitude a bicicleta continuaria “perdida”. Obrigada!”

Dez anos depois, histórias que começam na internet e se espalham, chegando à imprensa, surgem diariamente. Porém, naquela época, passei dias pensando em que coisa incrível o poder das redes sociais. Só não imaginava que um dia alguém iria usar esse poder para espalhar notícias falsas…

Para quem ficou curioso , seguem alguns links das notícias publicadas na época:

Vamos tomar um café?

Será uma satisfação trocar ideias, experiências e conhecer seus projetos